DEPOSIÇÃO

Ai, não quero mais amar

Achei terrível

Vi as profundezas do íntimo

A cor das origens

Vi o que há depois e bem depois do azul

A destruir juízos

Descobri o que há no cérebro

A resposta impossível

Ai, não quero mais amar

Vi as hemácias vibrando em festa

Vi uma estrela colada em minha testa

Eu detestei amar, coisa insana

Essa falta de ar

Tirana

Não, não quero mais

Quero ser como as lesmas se arrastando

Gosmentas pelo chão do pátio

Eu quero ser uma ameba

E de amar não ter conta

Nem sonhar

Nem ficar tonta

Ai, também não quero ser amada

Porque me cansa

A doação

O compromisso

Dos sentidos a dança

Não quero ser amada

Nem pela poesia

Por ninguém

Por nada

Quero ser uma palhinha de grama seca e machucada

Que não reconhece mais a água

Que não tem ilusões

Eu quero ser o escuro total depois da cancela

Eu quero ser de cera uma vela

Pálida

Gastando-se

Não quero amar nem ser amada

O que quero é ser a brisa

Que inocente

Sobre este mundo complicado

Desliza