AS METADES DE UM POETA...
Meu Deus!
Agora em mim há dois “Eus”.
Um meio louco e meio poeta.
Outro meio chato e meio careta.
Este está a ocupar a maior porção do meu eu.
A parte poeta é intensamente sonhadora;
chega, no desprezo dela, a enxergar amor.
A parte homem tem os pés fincados no chão;
vê desprezo até quando ela me dá amor.
Duas metades formando um todo desfigurado.
Partes que não se dão bem e que se confrontam...
Uma, vê o mar e se delicia.
Fica horas a admirar o arco-íris;
parecendo criança quando aprende a andar.
A outra vê o mar e sente náuseas,
passeia sob o arco-íris tropeçando nas pedras;
não sente a brisa, vai com a cabeça no chão:
trabalho, dívidas, família e a compra do pão...
Difícil é contrabalancear dentro de um corpo:
duas idéias, duas sentenças, sonhos distintos.
Mais difícil ainda é saber que a parte homem
real está dia-a-dia vencendo a parte romântica...