O poeta na areia

Há vários caminhos para a boa ventura.

Um deles é certo, porém;

permiti-me apresentá-lo.

Repousa no refletir do sol na água

às cinco e quarenta e cinco da tarde

no porto da Barra.

Caminhai, baianos,

segui por ele, turistas.

Fixai o olhar no círculo,

lá ao fundo, luminoso.

Ide a ele que vem a vós, pais e irmãos,

todo santo dia, cá na baía de todos os santos,

estes que vos abençoam

a caminhada por sobre as águas.

Não é preciso milagre,

somente que observeis o tapete alaranjado

duelando com o azul costumeiro

(aliás, cores não brigam,

apenas entram em contraste)

e andeis pelo brilho.

As seis horas são esperadas.

Movei-vos pela estrada, portanto,

que os cavalos-marinhos já vêm

enrolar o tapete, ao que se põe

o sol, não no horizonte,

mas atrás da ilha de Itaparica,

ao som das palmas que batem

os bons viajantes na areia

cada vez mais fina, desgastada

de emoção por tantos crepúsculos.