FALAR EM TONS
Uma fala em comum
Um falar de terceiros
Um andar em terreno desabitado
Alcançar quem está na frente
Falar da vida alheia
A teoria do amor
é a enxurrada de fatos que contam
que falam cessar
A meta é um montar uma cena nova
que nem precisa ser verdadeira
uma fala de cinco metros
uma conversa com um tempo congelado
escorrendo em gel formato
mole e exausto
ouvir e acreditar
pois cumpre que a vítima terá razão
ninguém de quem se fale
poderá se defender
cumpre-se à risca
que se fale sem promessas ou garantias de verdade
em um banquete decente
há que se falar mal de muitos
muito mais se há
se se falar de casais
um prato cheio para o banquete
um prato cheio para o filósofo de esquina
mas saiba que à mulher prometida
não se deve apaixonar
deve-se sim, buscar a foda sem máculas
uma coisa de beijos e abraços
de gozos entre roupas
uma ou mais mãos apertando sexos
coisas do furtivo e da escondida sombra
Deve-se manter a história que está por vir
A fada má de um assunto alheio
que impõe um não(!) a chamar
um chamar de sim(!) para confundir
um talvez que se quer fuga
fada sem pena
madrasta do fado negativo
tacanha imagem de alguém que quer o fogo da paixão
ardendo em peito alheio
Frívola e fria objetividade
o falar em tons desencanta magias seguras
desdobra tecnologias desconhecidas
ou ciências ignotas
o falar em dons se manifesta neutro
vozes redutoras e pusilânimes
quando comentam o que não fariam
ou criticam o que queriam fazer
Redução insuportável
Pois mesmo o tesão é de valor magno
Ele desloca atenções e envida ao andar sem mágoas
Diminui a não-pessoa em formatos de água
O formato de muitas águas
O formato de turbilhões que ser quer multidões
e muitas vozes
e muitos falares
e muitos cantares
pois é de cor que se fala quando se canta
um discurso que se apossa do outro
uma catadupa de palavras e quimeras
um discurso daqueles de ver o outro morto
e deificá-lo sem referências
você é sempre o outro
e eu falo de você como quem fala de mim
eu falo
não quero que o outro fale de você
nem de mim