O elogio da traição
A carne age por si só e alma se mantém velada.
As mãos entrelaçam-se (deslize), os braços envolvem-se (descuido), os sorrisos encontram-se perdidos pelas mesmas faces.
Os corpos estão frente a frente (como um só).
O mesmo espanto silencioso de um olhar rouba o brilho dos meus olhos por segundos.
Os lábios apenas tocam-se, os olhos apenas encontram-se (ocasionalmente), as pernas roçam-se (impulso).
Não se escuta, não se vê.
Fogem de si mesmos e da chama que os persegue.
Os corpos repelem-se (dúvida), a carne deseja (pecado), a alma impede a traição (momentaneamente).
Cavalgamos por pensamentos e volúpias, beirando o risco de outro acaso.
O mesmo odor carnal e pecaminoso exalava de nossas peles, o mesmo engano.
Os lábios apenas roçavam-se (erro), os corpos apenas encaixavam-se (destino?).
Eis o amor um blefe a elogiar a traição.
Os olhos apenas fechavam-se (medo), os corpos apenas perdiam-se, os lábios rejeitavam-se (culpa), doces palavras anunciavam um fim amargo.
O sabor da ilusão é tão doce, mas o paladar permanece sempre azedo.