POSSE POÉTICA, UMA TENTATIVA FRUSTRADA

Ao tentar compor esta página, a Poesia e o Soneto se digladiavam em mim. Poeta de versos predominantemente livres, soltos, luto pelo voo poético. Sei dos moldes clássicos, da exigência e de toda a gramática que envolve a elaboração de um soneto. Entretanto, saber do futebol não transforma alguém em jogador.

Por um lado, diversas vezes já disse e agora repito sobre a minha paixão pelo soneto para que não se possa pensar que o reprovo, o que seria uma incompetência da minha parte. Soneto é música, ritmo, harmonia e sinfonia, além de conter em si a inspiração divina. Por outro lado, reconheço a minha indisciplina e impaciência para atender aos critérios da técnica para a criação da forma poética aqui aludida.

Inicialmente escrevi uma espécie de soneto que seria uma releitura dessa forma, alterando-lhe e subvertendo-lhe sacrilegamente as feições em versos livres. Para tanto não me falta uma pitada de rebeldia e irreverência.

Em seguida, sentindo sobre mim as iras de críticos e o olhar enviesado da própria forma poética, recuei e, penosamente, me danei a contar sílabas poéticas. Meus dedos e ritmo biológico se recusavam a tal exercício. Pensei também no esquema de rimas, mas abandonei a questão e sequer conferi. Pensei mais no que me dizia a Inspiração. E recordei tantos outros conceitos, preceitos e preconceitos.

Em outra etapa, juntei as estrofes tentando esconder dos leitores a minha vontade de compor um soneto.

POSSE POÉTICA

No intimo, fero torpor, agonia,

Corta-lhe o peito o punhal da noite esquiva.

Colados lábios, gosmenta saliva,

Revira os olhos intensa nostalgia.

Ah, este mundo não lhe dá paz, sossego,

Nem ao menos o cosmos se compadece

E, no desesperado instante d’enlevo,

A frialdade da morte o enlouquece.

Adentra a visita, esperada alegria

Para quem toda honraria é coisa pouca.

A posse do poeta canta, irradia,

A diva (ó desvario!) apaixonada e louca

Beijando ardorosamente o ser amado,

Enlaça-o, conquistadora. Então, cativa,

Volta. Nua, morde-lhe ainda mais a boca.

De tudo faz e a fímbria do coitado

Suga, lambendo-lhe o mel, dama lasciva,

A repetir seu nome, a voz quente, rouca.

Enfim, ao rever o texto, notei a existência de um quarteto a mais. Fiz ao contrário do que ocorreu como o estrombote (o terceiro terceto): criei o terceiro quarteto. E cumpriu-se a máxima de que “A emenda saiu pior que o soneto”. Resolvi, então, colar os versos e, para não apagá-los definitivamente, agora me exponho humildemente à crítica, confiada na sagrada licença poética.

*********************************************

DESEJANDO DEMONSTRAR CARINHO PELA MINHA QUERIDA COLEGA E ASSÍDUA LEITORA CUJOS COMENTÁRIOS CALAM PROFUNDAMENTE EM MEU ÍNTIMO, PUBLICO NESTE ESPAÇO ALGUMAS DE SUAS BENDITASPALAVRAS. ABRAÇO, BJS E MINHA TERNURA, ESTRELA DALVA QUE NO MEU CEU DESPONTA:

Querida Tânia, confesso: eu acho lindos os sonetos, viajo com eles e fico enternecida. Temos neste recanto maravilhosos sonetistas a quem leio e releio com muito prazer, com perdão da palavra, invejando-os até. Não é uma inveja maldosa, mas querendo ser boa o suficiente para construir tão belos poemas! Não consigo, como disse em meu texto "Não sou poeta", tenho consciência do pouco que sei. Mas você, Tânia, escreve lindamente e a mim não importa se há técnica ou não no que escreve; o que me interessa é que seus versos tocam fundo em meu coração e que a poesia é a sua raiz. Faça sonetos, sei que consegue, todavia deixe fluir o que lhe vem de dentro e a métrica será perfeita: sem tirar nem pôr, como sangria e fratura exposta, que chegam a verter lágrimas. Adoro ler o que escreve e vou continuar, com muito carinho! Bjos

Enviado por Dalva Molina Mansano em 27/03/2010 15:51