MÚLTIPLOS E ENCADEADOS _ II

NEM SEI QUE FIZ DO JUÍZO

Que fazemos desta saudade

Que não se consegue aplacar

Quanto mais a vida nos afasta

Mais nos logra aproximar

Que faço desta aflição

Que comigo vive

Enche meu coração

Que faço deste pecado

Toda a minha consumição

Que digo se depois de estar contigo

Nem sei que fiz do juízo

Falo sozinha

Sorrio sem motivo

E o inferno parece

Verdadeiro paraíso

Ah, este bem é bom demais

Abro as asas em voos rasantes

Depois nas maiores alturas

Além dos mais altos montes

Das nuvens na brancura

Construo castelos e pontes

Que faço deste verde em que me lanças

De tantas borboletas multicores

Que faço destes versos

E das mais mimosas flores

Que digo se fico assim

Feito menina encantada

Que faço destes beijos

Que frequentam minha boca

Em plena madrugada

Pergunto-me a todo instante

E a resposta é

Nada

SOLIDÃO

Brota misteriosamente

Uma indizível solidão

No centro das grandes cidades

Quando o amor dorme

SUBTERRÂNEO

Como sabes que te amo

Que vento

Pássaro

Nuvem

Sussurro

Chegou até aí pra te dizer

Como de tal coisa tens certeza

Se nem me permito à verdade

Se nem de mim sinto piedade

Como sabes que te amo

Se no mais profundo de uma cratera escondi

E com uma enorme pedra encobri

De mim mesma

Este fato

Como me encontraste

No meu subterrâneo

VERSOS DESEJADOS

Se fabrico poesia

Por certo há um motor

Que alimenta a caldeira

Onde ferve o verso

Onde mora a inspiração

E as ninfas sedentas, nuas

Mergulhadas na paixão

Banhando-se em fontes, atentas

Vivem a me ordenar

Faça versos

Não descanse

Nossa sina é cantar, assim também a tua

E que esse canto se ouça

Aqui e além mar

Obedeço às deidades

Nesta vida

Em outras, se houver

Em todas as eras e idades

E se um dia eu voltar

Trarei um ceu escrito

Onde os versos desejados

Perfeitos, bem acabados

Enfim sejam ditos

BRINCADEIRA

Quero saber se de onde estás

Sentes quando te abraço e beijo

Que, de surpresa e por detrás

De ti me aconchego

E na tua cintura, de cada lado, num trisco,

Ao mesmo tempo

Belisco

Penduro-me em teu pescoço

E depois

Colo no teu o meu corpo

Faço cócegas em teu umbigo

E o que em seguida farei

Não digo