MÚLTIPLOS E ENCADEADOS_ I

SAUDADES

Ai, não me digas mais

Que é saudade o que sentes

Porque tu não sabes

Nem desejo que experimentes

Isto que mora aqui

É Netuno furioso

É o incendiário Nero

De Alexandre o cavalo fogoso

A flechada de Diana

De Dante o fogo do inferno

De Milton, o Paraíso

Tigre na selva africana

O ceu de tormentas

A secura da savana

É algo que não aguentas

Isto que abrasa meu ser

Corrompe meu juízo

Não é só saudade

Nem pode ser

É bem maior, bem mais forte

É o gosto da vida

Misturado com o da morte

À REVELIA DE

Não queremos

Mas nos pertencemos

À revelia de

Objetos de

Subjugados por

Algo que é propósito

Exclusivo

Na circunscrição

E sob os caprichos

De uma implacável

Dor

CANTO PARA ESPANTAR O PRANTO

Não, não tenha modéstia

É a ti mesmo que canto

Mesmo que isto me custe

Todas as águas do mundo

Revoltas em pranto

FETO

Eu vi o amor morto

Na calçada do destino

Roxo menino

Num latão de lixo

Sol a pino

INDIFERENÇA

Pequena borboleta sou

Da efemeridade cativa

E não do amor

Que fazes de ti agora

Dessa sede amedrontadora

Que nos lábios saliva

Desse corpo todo tremor

Desse coração feito um vulcão

Cujo fogo congela

Em minhas asas de indiferença