Alguém olha por mim
Sei que é tão pouco o que agradeço.
Entre estrelas e sóis
velas-me e me abraças
(nem sempre mereço).
Fisgo tuas sutilezas únicas
que me chegam siderais
e, de repente, esqueço.
Sei que perambulas por esta cruel cidade
sem que eu possa desenhar-lhe a face
ou perder-me no teu olhar.
Alerta estás
( e eu a dar trabalho!)
Os meus motivos
às vezes, toscos
outras, bizarros
(deixo-te de pelo eriçado).
Carrego a imaginação no bolso
não preciso de harpas e solfejos
colher impressões digitais
atestado de corpo
sem alma.
É teu o mérito da cura
quando a ferida arde
e o ungüento chega
acariciando
( essa minha casca dura).
Quando, no poente, o sol apressa-se
e a noite desce
( nada temo)
o meu coração aquieta-se
desse alvoroço cotidiano.
Deito-me e en_canto
sem arranhar os cantos
lápis de cor e papel de seda
trago no rosto
pois o sono espera-me
sem agonia
é noite de festa
(criança peralta aflora)
coisas que só anjos entendem.
Na ponta dos dedos
terço o meu rosário
sem temer fantasmas
minha oferenda é para os
anjos que me acolhem
sob asas santas.