Alguém olha por mim

Sei que é tão pouco o que agradeço.

Entre estrelas e sóis

velas-me e me abraças

(nem sempre mereço).

Fisgo tuas sutilezas únicas

que me chegam siderais

e, de repente, esqueço.

Sei que perambulas por esta cruel cidade

sem que eu possa desenhar-lhe a face

ou perder-me no teu olhar.

Alerta estás

( e eu a dar trabalho!)

Os meus motivos

às vezes, toscos

outras, bizarros

(deixo-te de pelo eriçado).

Carrego a imaginação no bolso

não preciso de harpas e solfejos

colher impressões digitais

atestado de corpo

sem alma.

É teu o mérito da cura

quando a ferida arde

e o ungüento chega

acariciando

( essa minha casca dura).

Quando, no poente, o sol apressa-se

e a noite desce

( nada temo)

o meu coração aquieta-se

desse alvoroço cotidiano.

Deito-me e en_canto

sem arranhar os cantos

lápis de cor e papel de seda

trago no rosto

pois o sono espera-me

sem agonia

é noite de festa

(criança peralta aflora)

coisas que só anjos entendem.

Na ponta dos dedos

terço o meu rosário

sem temer fantasmas

minha oferenda é para os

anjos que me acolhem

sob asas santas.

FATIMA MOTA
Enviado por FATIMA MOTA em 02/03/2010
Reeditado em 03/03/2010
Código do texto: T2115366
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