O JOGO VIROU

Chega numa hora que não tem mais jeito,

acabaram as fichas pra renovar o pleito,

portas que antes se curvavam estão fechando o lastro

atalhos que podiam acudir agora nem servem pra deixar rastro.

Chega numa hora que a fronha descamba até o olhar,

os ventos quase desistem de torcer ou brigar,

cada músculo já deu sua saliva mais predileta e forte,

a alma está pedindo água, jogada à sua própria sorte.

Chega numa hora que os galhos ameaçam novo motim,

o sangue fica medroso de correr até o fim,

as mãos se mostram imberbes, não conseguem mais se impor.

o sono que deveria avarandar, agora só serve pra empurrar pra dor.

Chamar por Deus virou placebo, não mais afronta,

todos os santos fizeram mutirão e pediram a conta,

os céus jogaram a toalha, clamaram por alforria,

até o inferno deflagou aquele sorriso que não devia.

Então veio a luz que já se esculpiu bendita,

veio também aquele colo de uma forma esquisita,

as nuvens que só faziam encurralar agora são unguento,

o caminho que tanto calejava, agora arrebata um rebento.

O meu jogo virou como nunca poderia arriscar um palpite,

dá pra dormir só pra abrir caminho para o arrebite,

se faltou fé foi porque não tinha mais pra quem pedir,

se faltou fogo foi porque minha alma não sabia quem parir.

E, finalmente, agora tem tudo pra sorrir.