MEUS FILHOS, DE TANTAS MULHERES.

Tenho tantos filhos, de tantas mulheres,

alguns arredios, alguns tardios, tantos vadios.

Alguns afago sem medo,

outros fujo até do cheiro,

alguns nem sei onde é a entrada,

outros coloco todo dia pra dormir e acordar.

Alguns conheço pelo nome,

outros a vida se encarregará de batizar num dia qualquer.

Alguns são perfeitos, inteiros,

outros mal formados, em tecos, tão estranhos que dá medo até de pensar.

Alguns são decididos, enevoados de paixão,

outros tropeçam em si mesmos tal bêbados expulsos de uma orgia louca.

Alguns afiam seus dentes só roçando numa pele qualquer,

outros devoram seus inimigos catando seus sonhos pela mão.

Alguns estão sempre junto de mim, feito cão fiel.

Outros fazem questão de ficar bem depois de onde o horizonte se deita.

Alguns são sábios, vasculham meus segredos como se pulassem amarelinha,

outros são tolos feito velhos que esqueceram de desmamar.

Tenho tantos filhos, de tantas mulheres,

mas todos, na verdade, vivem dentro de mim,

em lugares que até nunca fui, nem nunca irei.

Assim cada dia que passa, eles se tornam mais partes de mim

e eu, cada vez mais, me torno mais parte deles.