Será este o poema que eu caço??

Se o poema não nasce

ou surge meio torcido,

quem pranteia sou eu.

A dor dilacera o tecido

e no peito meu a carne,

a mercê da dor, adoece.

Se o poema não corre solto

e leve nas linhas do papel,

perco o chão e o meu céu.

Fico, assim: sem sal e mel.

Aturdido, um tanto revolto,

vida torta, um porto morto.

Busco o poema arrebatador

que na primeira mão de cal

aparece pronto e magistral.

Uma diva em noite nupcial,

a deleitar-se em puro amor,

louca, sem nada de divinal.

É este o poema que eu caço,

armo laço, arregaço o peito,

e ele teima em não nascer.

Quanto mais faço e desfaço

mais me perco no fracasso

de não vê-lo resplandecer.

Se o poema não corre solto

e leve nas linhas do papel,

perco o chão e o meu céu.

IVAN CORRÊA
Enviado por IVAN CORRÊA em 17/01/2010
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