Recomeço
Nasce uma menina
Desarmada de liberdade
Que não teve infância
Nem pai de verdade
Fechada no seu mundo
Não conhecia as flores
Nem as dores da vida
Além da sua janela
Ela cresceu
Embaixo da saia da mãe
E das broncas do pai
Cansou-se de chorar
E de se perguntar
Lançou-se num beijo
Amargo, sem desejo,
Casou-se sem jeito
Plantou dois filhos
Na marra, na surra,
Nos goles de amargura
O seu rosto sem riso
E sempre umedecido
Pelo sonho que se perdeu
Pela vida que não viveu
E a felicidade que nunca nasceu
Um dia de arco íris
A sua invocação acordou irada
Pegou os seus meninos
E seguiu a estrada
De volta à terra natal
Às saias da mãe
Para um recomeço sem começo
Ao quase nada
Sentiu o sabor acre da vida
E o frio do futuro sem resposta
Nasceu agora uma mulher
Armada de liberdade
De olhos claros
Cheios de inocência
E de irreconhecível fortaleza
O riso veio de improviso
A alegria veio lhe visitar todo dia
A criança, aquela que vivia,
Embaixo da saia da mãe
Calada aos berros do pai
Enfim... voltou
Pra dizer que a vida
É simples e bonita
E que ela apenas começou.
Daniel Pinheiro Lima Couto
21/07/06