Sublimação
"E, ao desperdir-se da tristeza, cortou os pulsos mas, invés de
sangue, jorraram rosas - O Amor tinha transformado sua natureza."
(Franklin Maciel)
Assim se desfez da dor,
do amargo amor,
da existência que tanto a afligia.
Um corte profundo
do tamanho do mundo
agora lhe preenchia.
A alma, absorta e leve
nem se contorceu
nem se atreveu
a reclamar, de tão breve
aquele instante.
Parecia levitar
após o ato sublime,
nem se lembrava mais
da angústia e da tristeza
que habitavam seu interior.
Adeus aos pais, adeus ao amor...
Sonhos interrompidos,
talvez nunca se realizariam!?
Deveria ter se libertado antes,
não ter se deixado dominar
pelo desejo dos amantes
de se aglutinar a outro ser
como amálgama
e nunca mais se desprender.
Por ora, sentia-se feliz
ao perceber na pele a maciez das pétalas
de rosas que brotavam de seus cortes
anunciando com ternura sua morte
e exalando ao longe um doce aroma
envolvendo-a por inteiro,
interrompendo de vez o pesadelo
de uma alma que agora só quer paz...