OCEANO FLAMENCO
Eu me vestia de vermelho todos os dias
e corria pela praia em contraste primário com as cores do mar,
pisando em areia branca,
revisando versos azuis.
Perdi três vezes o grande amor,
abandonei pessoas eternas,
esqueci o número da casa em que vivia,
e vaguei sem dinheiro pelas ruas do meu país.
Cheguei como estrangeira em terra desabitada,
carreguei meu silêncio por tempo inaudito,
forrei de poesia o chão do meu quarto inóspito,
e chorei sozinha em noites de céu sem lua.
Conquistei meu espaço com palavras fortes,
gerei frases de efeito em território alheio,
mascarei intenções duvidosas,
formulei sentenças de guerra,
e impus à força minha vontade única.
Não fiz muitos amigos,
testei meu passaporte em estabelecimentos locais,
mantive em segredo meu passado profano,
e falhei em público quando jamais deveria.
Hoje sou mais de cinco mulheres,
encanto homens e crianças,
minha bagagem é cheia de histórias adormecidas
e a liberdade infinita, minha melhor companhia.