eu não mudei, as coisas mudaram em mim
eu não mudo, mantenho meu olhar, meu sentir, meu interagir
as coisas que olho mudaram, as que sinto, as que faço
as coisas já não são o que eram, são o que são
as coisas sempre foram o que são.
 
eu não mudei, as coisas mudaram em mim
mantenho meu olhar sonhador sobre todas as coisas
sobre a parede cinza da delegacia
poderia ser branca esta parede
poderiam sorrir estes homens
poderia haver humanidade e urbanidade
e haveria conforto em quem se senta num banco da delegacia.
 
eu não mudei, as coisas mudaram em mim
mantenho meu olhar dramático sobre todas as coisas
sobre este homem velho arcado, estático na esquina
poderia ser velho este homem e sorrir
poderia estar em gozo de sua plenitude
poderia ter havido uma vida de ilusões e realizações
e haveria paz em quem se curva na esquina.
 
eu não mudei, as coisas mudaram em mim
mantenho meu olhar poético sobre todas as coisas
sobre este amor corroído e vívido
poderia ser imaculado e esperançoso este amor
poderia ser novo e antigo e mais amor
poderia ser um amor de sorriso e gozo
e haveria mais amor em tudo o que vivo.
 
eu não mudei, as coisas mudaram em mim
as coisas que não mudam, são o que são
eu é que não sou quem fui, eu sou
eu mudei, as coisas não mudam em mim.