semana difícil,
solitária, egocêntrica,
quase narcisista.
 
como diferem, no poeta, as dores:
a dor d'alma o faz voltar-se para o mundo;
fecha-se em si para entender,
e abre-se em poemas para expressar.
 
a dor física o faz voltar-se para si;
abre-se ao mundo para encontrar o remédio,
e fecha-se em si por não poder dar-se ao mundo.
 
a dor n'alma o faz solitário em sua luta,
como um herói mitológico, 
ele enfrenta dragões para salvar o mundo. 
 
a dor física o faz triste, impotente,
luta contra micróbios com o qual lutam todos,
e todos perdem,
e ele não é nada além de alguém que também luta e também perde.
 
a dor d'alma o faz diferente, a dor física o faz igual.
 
e assim chega ao final esta semana, arrastando dias,
e neste arrasto trazendo a melancolia:
 
o filosofo invade o poeta e pensa suas dores,
e alia à sua enfermidade física uma doença n'alma,
a de se saber mais humano e menos poeta,
mais igual e menos um.
 
paradoxos vívidos e retos,
ao acrescentar ao poeta a dor em sua alma,
o filósofo lhe devolve sua condição poética,
e a melancolia que abateria ao homem eleva ao poeta,
e nada é triste ou dorido além do fingimento.
 
diz o Umberto Eco que o
poeta escreve o poema ideal
para a musa idealizada,
assim como o filósofo pensa as coisas ideais
para um mundo idealizado, 
 
é o mesmo conceito do Pessoa,
o poeta finge a dor, o filósofo pensa friamente sobre a vida, 
não vivenciando, ambos, aquilo que expressam,
pois não é esta a função da arte ou da filosofia.
 
mas, e quando habitam no mesmo cérebro o poeta e o pensador?
e quando apenas saber não basta,
pois este cérebro cresceu em um corpo aventureiro
com um peito romântico?
 
aí, meu amor,
 
vamos à vida.
viver a dor para senti-la doída;
viver o amor para senti-lo amante;
viver a vida para sentir-se vivo.
 
o dia hoje ainda trará a noite
e nela te espero para descansar da dor,
amar o amor, e continuar a viver.