Estranha Primavera
Nesta nebulosa paisagem
Eu, mais que vejo, sinto,
Quando atravesso os campos de cimento
Em busca do meu porto seguro,
A primavera que se esconde
Em grossas gotas de águas cristalinas.
As flores, cabisbaixas pelo açoite
Dos oblíquos ventos rastejantes,
Envolvendo em lama as pétalas disformes.
O tempo que corre lá fora está dentro de mim
Corrói minha alma que se assemelha
A esta triste estação indefinida
Do qual o sol envergonhado anda fugindo
Deixando os braços envolvendo corpos gelados.
Fecho os olhos e me distancio desta paisagem
(estranha
Que não combina com o tempo
Que o calendário marca
E que busco afastar do meu outono.
Construo em meu sonho jardim de rosas
Caminho sem espinhos em direção ao sol
Por onde passam abelhas em arabescos
E as borboletas formam dossel brilhante
Protegendo a caravana em festa
Comemorando a estação das flores.
Mas nada adianta porque o frio corta
E entra por meus pés buscando a alma.
Não sei que tempo é este que reflete no coração,
Que brinca assim com minhas emoções,
Enchendo de tristeza os dias de outubro
Que deveriam ser de festas e alegrias.
Venha Primavera, venha reinar soberana
Neste tempo que por direito é seu.
Não deixe o inverno continuar reinando.
Impeça o verão de molhar meu rosto.
Expulse as sombras que toldam minha visão.
Seque as lágrimas que o tempo chora em mim
E deixe que eu dance com meus pés descalços
Abrindo os braços, mostrando os ombros nus.
Como se eu fosse um espírito transcendendo a
(vida
Além das estações, além da dor.
Desafio lançado pela Academina Lavrense de Letras, em outubro, 24, do ano de 2006.