Rouge
Abriu a janela e apagou a luz
Caminhou até a cama em suas cochas grossas e seus seios duros
Andou quase que como uma puta
Era o que fazia quando precisava se sentir mulher
”se eu tivesse trepado talvez dormisse melhor,mas não”
Pegou o maço de cigarro de cima da mesa
Deliciou-se apenas em escolher um
Levou-o na boca ,pintada com batom muito vermelho
De lábios que eu me perderia se pudesse,e tragou
Feito uma madame dos anos 20 ou uma cafetina
Mas era apenas uma advogada recém formada em um tempo medíocre
‘oo NE me quitte pas,o NE me quitte pás,o NE me quitte pás”
Tragava e fechava os olhos quase como se tivesse um orgasmo
“talvez um dia alguém me ame,e se deite comigo em toda primeira noite de lua cheia”
Tragou com seus cílios gigantes quase trêmulos de sono
Do sono que tinha e que não a permitia dormir
“ a vida é longa,talvez eu precise de umas férias,ou mesmo entrar em coma”
Tragou contente,ainda com os olhos semi cerrados
“sinto falta de tanta coisa ,mas de tanta coisa que eu não me lembro,talvez eu nem saiba sentir saudade”
tragou fechando os olhos,se espreguiçou feito um gato e se rendeu ao conforto da cama
“se Nistzche estiver certo eu deveria e me suicidar...não, sem suicídio,suicídio é tão poético que ninguém se importa,eu deveria era rever terceira clausura antes de concluir o trabalho amanha”
E já de olhos fechados,não levou o cigarro na boca,se entregou ao sono com o cigarro ao lado do corpo,enquanto Morpheus a carregava pra longe
“liberdade é perder todas as esperanças”
O cigarro se encontrou com a cortina e a tingiu com fogo
“o sol é quente e macio,e o verão tem um ar de sei-la o que,talvez apenas a impressão de algo como...”
O fogo da cortina se alastrou pela parede
“algo talvez relacionado com esperança..”
Se alastrou pelo carpete úmido
“nem se eu estivesse sonhando teria um belo dia de calor”
E revestiu o quarto inteiro
“ou talvez estejam me levando pro inferno”
E coloriu seus lábios vermelhos em vermelho chama
E todos os pensamentos e lembranças em mera poesia descartável
Sem fazer falta a ninguém
Nem barulho do outro lado da cidade
Pois o mundo continua a rodar
Indiferente a todos os lábios que se queimam
E os que ainda estão a se queimar