Parábola

Sirvo-me do prato que me degusta

E me farto nas delícias de minha angústia

Atrelada a ânsia de voar além dos limites

Da enferma imaginação...

Que necrosou as asas do tempo.

Na lembrança do sopro do vento.

E essa angústia que me degusta

Rompendo meu contrato com a vida

É só uma fração desse parto...

Nesse indolor sofrer!

Pois muito mais que a angústia

Faz sofrer também a solidão

Nos espaços não preenchidos

Aos poucos sendo esquecidos

No fundo do coração!

Ah! Essa morte tão vibrante

Que dilacera a alma acorrentada

No cárcere do seu próprio eu.

Devore-me. Oh! Meu algoz

Antes que eu saiba...

Que minha dor é mais etérea

Que as asas serenas da liberdade.

Fartei-me do teu gosto, prato indigesto.

Quero sentir do gosto do vento

No doce da brisa.

Os campos em festa meu ar, perfumar

Divagar nos devaneios do crepúsculo

E finalmente em meu centro, me encontrar!