MEUS SACIS DA ALMA

Pequenos folguedos que se esvaem arredios, tardios, desmamados.

São estalos que pululam com ímpeto atroz, com ânsia de gozo saudoso,

pequenos leques que entoam cantigas nos becos dos meus ouvidos vadios,

pequenos ardis imaculados pela fronha encardida do repeteco sem fim.

Lembro de todos vocês, por nome e pelo cheiro, e pelo áspero toque,

estão cravados nas entranhas do meu peito sem dó nem cuidado, sem desculpa,

estão fardados só esperando a hora do primeiro tiro ou da retirada de campo triunfal.

Hoje sinto vocês em fôlego uníssono dissecando meu caminho,

vejo suas pernas cansadas querendo trégua ou, quem sabe, um colo aquecido sem pressa,

vejo seus olhos lambuzando meus desejos como se fugidos da legião estrangeira.

Parecem que nunca mais terão fim, nem começo, nem prorrogação.

As portas que antes estavam encostadas, agora se prostram como muralhas sem trinco e nem saideira,

os ventos que eram aliados agora teimam em soprar contra cada um dos meus poros, numa força que nunca relei antes.

Mas isso não tem sentido, nem destino, nem prumo,

são laços que ao longo dos dias vou cerzindo como um delgado nó que ficará entronado no mastro mais bizarro da minha alma,

são traços de uma ânsia que ninguém terá força para coar, embalar ou, tampouco, sorrir. Talvez parir de novo, quem sabe.

Cálices que trago enfurnados nas ventas do meu sobretudo são os amigos mais fiéis que posso evocar agora,

nas vértebras que traduzo desse surrado sussurro, o que aparecem são discos riscados daquela ladainha deportada da gente,

que nunca mais quero costurar de novo.

Cada um de vocês ainda terá a pachorra de aplaudir o meu show, aquele mesmo número que passou batido pela vida, que foi um fiapo avesso nessas dança de tantos, de tantos.

E nesse dia, acredite, não serão os passos que nos farão ir pra frente.

E nem, sobretudo, o que é certo, justo ou do preciso. Ou necessário.

Que seja feita a coisa do jeito que as amarras permitirem, com a força que meus músculos teimarem em expressar, em retalhar, em cerzir com suas próprias vísceras.

E somente assim o dia terá suas fraldas finalmente postas a venda.

Pra quem quiser comprar ou, por certo, levar de graça.