Na tripulação dos condenados, clamo por um bote salva-vidas
Diante da contundência do juiz, recuei
Um magistrado perfeito, talvez eu não temesse
Mas, nesse caso, sem prazo
O maior subjuga o menor
Seus olhos sabem que pouco estudei
Se aqui estou, perante a sociedade falhei
Na perfeita sentença da natureza
O céu recua-se, bem sei
Admiro seu martelo, sua destreza, seu veredicto e equilíbrio
O paradoxo da vida:
Quanto mais real, mais mística
Vivo num eterno processo
Onde os levantamentos de hipóteses devem ser provados
Imerso na subversão de carimbos, folhas, fatos e amostras
Processos protocolados, recolhidos e inspecionados
Não fiz o ato?
Até o final da investigação...
Não me sentia imputado
Deixei pela metade minhas intenções, um drink inacabado, verberações
Mas fui acusado, formalmente citado
Diante de tanta umidade e frieza do magistrado
No ato da defesa, o promotor em destreza
Senti náusea, como se estivesse gripado
Já não posso com papéis, carpetes e ar-condicionado
Perante minha própria fragilidade, consternado
Não me absolveram, ao contrário
Confirmaram-se as acusações, sem apelo e nem zelo
Algemado, pelas correntes do Estado, fui levado
Hoje, sou mais um encarcerado na tripulação dos condenados