Desmanche
Desmanche
Euna Britto de Oliveira
Desmancho o passeio
Desmancho um nome em meu seio
Desmancha-se a onda do meio
E por detrás da serra
Nasce o sol pela eterna vez!...
Carecem de prece os perversos.
Compro um casal de angolas e uma galinha pedrez;
Compro um sítio em condomínio
E instalo nele um ipê amarelo,
Outro roxo, outro rosa, outro branco...
Uma paineira,
Uma acácia,
Uma quaresmeira,
Uma árvore urbana,
De flor coral – a espatódea,
Uma outra, de flores vermelhas;
Uma centena de telhas,
Quatro, seis, oito paredes...
A minha e a tua redes.
Os peixes já estão no riacho,
Mando uma carta rio-abaixo...
Tudo abstrato, tudo na imaginação!
Procuro, procuro...
O mundo está claro
Mas o caminho está escuro.
A pedra é redonda e pequena,
É lindo me ver morena!
Começo a viver de comprido,
Não morta,
Viva e inteira,
Saindo da cachoeira,
Fluindo...
Vestindo a resumida peça
Que me permite nadar
E ser mais eu nesse mar...
A asa-delta é uma invenção colorida,
Meu vôo é mais baixo que o dela,
Minha casa é verde, azul e amarela
E do alto do pico do Ibituruna,
Em Governador Valadares,
Há uma Senhora que vela!
Em queda livre,
O pára-quedista se quebra.
O homem de negócios também se quebra,
Cada um a seu modo.
Já a mulata
Requebra!
Agosto – mês de queimadas.
O fogo no mato escuro desenha a forma de um alarme.
Não há pânico.
Os animais morrem inocentes.
Há prejuízo ecológico.
O quadro mais interessante que tenho em casa
É o “mapa-mundi”.
No mundo, há bem mais água do que terra,
Mesmo assim,
A terra é tanta!...
É o nosso piso territorial.
O teto é salarial.
Quem não estiver satisfeito onde está,
Mude-se, se puder.
Eu mesma não posso mudar,
Mesmo se quiser.
Meu corpo foi ressalvado.
Minha alma, sim,
Minha alma seja salva!
Por que escrevi essas coisas?...
Vou dizer que não sei.
Faz tanto tempo que vi o que escrevi!...
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BH - 1987
Transcrito em 11 de julho de 2006