SENTINDO AS PEDRAS
Meus pés já não suportam o chão duro
Das ruas da cidade feita em pedras
A maciez do solo em que procuro,
Sementes não germinam entre rochas.
Vicejam pragas nas praças desertas
E o sol não chega a um canto escuro
Da flor fechada que não desabrocha
No obscuro das horas incertas.
Os olhos marejados com a fumaça
Que ofusca a vista encobre a verdade
De um descaso, um inútil atraso
Do trem que por acaso agora passa
Longe dos trilhos, sem passagem certa
E sem parar na próxima estação.
Me perco se a cidade não desperta;
É hora de traçar nova invenção.
Este grito contido já não pode
Ficar mais tempo preso na garganta
Salta da boca, no infinito explode
E o mundo inteiro que escuta, espanta
Não adianta, a sua indiferença
Sufoca o grito, abafa a explosão.
As pedras não são poucas, nem pequenas,
Rompem as cordas do meu coração.
Assim sem dor, sem nenhuma aflição
Não vejo flor nem fruto pra colher,
Só sinto os pés descalços pelo chão
E a promessa de um céu que vai chover.
O seu silêncio, às vezes incomoda
Numa distância que parece ser
A inconstância da eternidade
Que cedo ou tarde, faz tudo mover.
Camélia La Branca
28/09/009
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