Mãos absurdas
A primeira vez que tuas mãos me tocaram
Foi como se eu despertasse de um longo inverno:
A primavera invadiu meu mundo,
Rebentando em mil cores pelos campos,
Pelos vales, pelos bosques, pelas encostas dos montes –
Imenso caldeirão de odores,
Orquestra desafinada de pássaros . . .
A última vez que tuas mão me tocaram
Foi como se o outono desabasse sobre meu mundo
Sem aviso prévio:
Brisa fria apressando o desverde da folhagem,
Desnudando árvores cujas folhas
Caíam rubras de espanto, ou amarelecidas
Por aquela vaga angústia que antecipa o acabamento de tudo . . .
Rodopio de folhas caídas, arrastadas,
Vestidas de uma tristeza úmida;
Tardes que se escoam vagamente
Para ocasos de magoada indiferença,
Cheios de resquícios de melancolia antecipada,
Orlando de amarelo morto
O arredondamento caótico das nuvens
Do poente sem sorriso . . .
Oliveira