Predador de si
Subindo ao monte mais alto um dia eu vi
A dor que existia e me sorria ironicamente
O mundo girava em um insano turbilhão
Isso deu-se quase ao alcance da minha mão
Foi-me dado o poder de não mais somente assistir
Eu poderia também agir e foi o que eu quis e fiz
Primeiro tratei de a nenhum desatino permitir
Tracei o destino da raça humana com puro verniz
Tudo ficou mais brilhante e felizes eram as casas
Mas veio a chuva, desbotou a tinta e tudo acabou
Tentei novamente e do anjo negro podei as asas
Pensei que ele havia trazido a chuva que entornou
Ele não mais podia voar e nem suas pragas espalhar
Com isso, por algum tempo, acabou-se a guerra
A humanidade conheceu um tempo de paz e trégua
Tudo prosperou, crianças nasceram, ódios emudeceram
Mas em pouco tempo as asas do anjo também cresceram
Novamente voou e desapareceu ao ver-se livre no ar
Por mais que perseguisse nunca mais o pude aprisionar
Mas ele, de onde estava, nada podia fazer de mal ao homem
Porém o pior aconteceu, o ódio falou e a muitos fez finar
Tentei aplacar a fúria que se levantou e a única forma
Foi destruir completamente um dos lados da contenda
Sacrificada uma parte para poder salvar outra, eis a lenda
Ninguém soube o motivo do ódio de novo vir a triunfar
Percebi que o anjo negro não mais era o responsável
Quem poderia ser culpado do homem querer guerrear?
Só pensando em matar e destruir, nunca em capitular
Logo ví que o mal estava dentro do próprio homem
Por mais que destruíssem logo voltavam a prosperar
Ao verem-se poderosos o único sentimento que nutriam
Era uma imensa, insana e aniquiladora, sede de poder
O que restou foi parar e assistir, pois logo todos morriam
Percebi que o homem sempre foi o predador dele próprio
Não existe animal que seja capaz de se causar tanto mal
Que a ambição para os humanos sempre foi o seu ópio
Será por ela que certamente o homem conhecerá seu final
Somente acordei quando cheguei a essa horrível e dura verdade
As visões desse sonho insano jamais dividi por crer serem banais
Mas continuo vivendo, melancolicamente, nesta triste sociedade
Aguardando o final que nos será dado por esses loucos canibais.
Brasília – DF, 08 de agosto de 2009.