ABSTRAÇÕES

Das frutas colhidas restaram

Tão-somente abstrações:

O aroma, a cica, o travo, a saudade.

Dos açucares sobraram apenas fragmentos.

Neste espaço frugal, pende um gosto inefável

Um viver deveras afável

Na alegria desvairada dos quintais

Seus filhos sazonais e esculentos

Nesta tenra puerícia

Desta torrente irisada e salutar

Apesar de que no sal da terra

Os entes descansam e nutrem

As raízes do porvir.

As ruínas não são tão ruins

Elas são marcas-d’água

A assinalar novos ciclos

A crisálida é o renovo

Da larva passada.

O basalto é o legado

Da lava lançada.

A pepita é o mérito

Da lavra explorada.

Faço dos versos, casamata

Na batalha entre realidade e sonho

Pois cessaram os sabores e olores da aurora

Neste horizonte fusco e teimoso

Na insistência da vontade humana.

Mas sigo a pescar manhãs

Garimpar tardes

Festejar noites

Repousar madrugadas

Em busca de uma alvorada

Verde e calada

Como num certo dia vi existir.

Paulino Pereira Lima
Enviado por Paulino Pereira Lima em 10/09/2009
Código do texto: T1803447
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.