Impressões sobre o Grito
"Será que a gente é gente?"
(Plínio Marcos)
I
E até mesmo
a carne é lírica!
Assim me ensinou
um Márquez, um Plínio, um Aluísio...
Mesmo que corte, a navalhada,
mesmo que o sangue caia,
mesmo que sambe o álcool,
mesmo que curta o suor
e soe o alarido tétrico
de um amor pútrido, fétido,
no escuro, ou sob a sombra
de um abajur lilás...
Sim, gota a gota, na carne,
o lirismo cai!
II
Como o medo de morrer nu,
no pêlo;
Como a carne cortada e o sangue
e o cheiro;
Como umas labaredas, não de fogo,
de osso;
Como o lado podre do acaso,
o que dá nojo;
Como o que há de ser o último suspiro
dum suicida qualquer;
Como um beijo na boca, ou entre pernas,
emputrecidas;
Como odor pestilento e pesado
de um lirismo escondido;
Como uma porrada lírica na boca
da gente;
Como gente, talvez, libidinosa e doce
Ou, quem sabe?, como o ollhar bonito e ínfimo
daquela gente esquecida!
III
Somos escravos
do acaso, que,
com seus dedos largos,
nos crava a seta
bem no centro
do peito.
Obs.: Estes três pequenos poemas foram escritos após eu ter assistido a um ensaio da peça GRITO! e, também, sob influência da leitura de peças de Plínio Marcos (Navalha na Carne, Querô, etc). A sensação lírica e espantosa que os textos e a peça me causaram estão expressas nos poemas. Deixo aqui os dados da peça, bem com a indicação da leitura desse genial dramaturgo. Valem muito a pena.
GRITO!
Textos: Plínio Marcos
Adaptação e Direção: Sérgio Milagre
Assistência de Direção: Zaqueu Machado
Supervisão Geral: Nilton Travesso
Grupo Sombrero de Teatro - Cooperativa Paulista de Teatro
Temporada:
De 12 de setembro a 15 de novembro
Sábados - 21h / domingos - 19h30
Oficina de Atores Nilton Travesso - Teatro Irene Ravache
Rua Capote Valente, 667 - Pinheiros - São Paulo - SP
Contatos: (11) 3088-1258 / www.niltontravesso.com.br
Ingressos: R$ 30,00 / Estudantes e terceira idade: "meia"