DIA DO ÍNDIO
Índio já foi sempre, de sol a sol.
Mas, depois, as naus cabralinas
caíram no mar, ao umbigo da costa
brasileira, nas terras baianas.
Aí lusitano caçou, prendeu, bateu,
fez montão de filhos nas indiazinhas.
Quando não, meteu-se no trabuco,
incendiou tabas e malocas na selva.
Então, a terra ameríndia se escapuliu
da mão dos índios, entrou de revés
para os pés das capitanias: um filé!
Daí em devante, ninguém mais teve oca,
nem plantio de mandioca, nem sossego,
com um mínimo de respeitabilidade.
Os verdadeiros donos do terreno
dançaram feio, de grande: pé no mato.
Quando o portuga foi embora, ai, ai, ai,
deixou maldição nômade, e sina andarilha,
na vidinha chué do batavo silvícola.
Para e n r o l a r o nosso nativo,
cheio de papo cívico-patriótico e tal,
até com laivos de tupiniquim altruísmo,
alguém inventou de inventar – o Dia
do Índio, entrecortado da queima, ao vivo,
do cacique pataxó hã-hã-hãe Galdino.
(Abril de 1997)
Fort., 31/08/2009.