Fazendo arte com as mãos


Há momentos em que a natureza
une em mim o divino e o profano,
o angelical e o diabólico,
o homem e o animal.
Que inteireza holística!
E sonhos, fantasias e lembranças
se unem num festival quase pagão
para reverenciar o desejo e o prazer.
É um ensaio instintivo de uma dança
que existe para perpetuar a existência.
Se não há circunstância ou parceiro
não posso ser displicente
e esquecer como dançar.
E o ensaio começa sob as vistas
lenientes e compassivas
do supremo criador desse espetáculo.
E o corpo se descobre em toques
e as mãos se multiplicam em buscas
e as partes se simulam amalgamadas.
Benção divina essa que faz
com que a imaginação transforme
as mãos em ferramentas de prazer.
Eis as mãos que afagam o furor!
Eis as mãos que acolhem o pulsar!
Eis as mãos que atiçam o desejo!
Eis as mãos que alvoroçam o molejo!
Eis as mãos que alcançam o intocável!
Eis as mãos que alimentam o prazer.
Benditas as mãos que simulam
corpos ardentes que não estão.
As mãos molhadas de amor
saem cobertas da glória
de arte tão nobre e divina.
Faço arte com as mãos, sou arteiro!
Feita a arte sozinho, sou inteiro!