Naiade

O tempo passa,surpreendentemente passa

Impossivelmente passa

Simplesmente existe e escoa em minhas mãos calejadas

As ruas que percorri,as mulheres que beijei e o seu cabelo loiro aveludado

Tudo se torna sonho,se perde feito sonho,dissipa-se como sonho

Lamento,pois nunca fora tão bela

Minha Lucy,teria sido o nosso passado tão belo?

Ou apenas o presente que é tão apático?

As vezes me custa tanto dormir

Pois temo que ambos tenham sido sinônimos

E a saudade que sinto,é apenas o desejo de acreditar que um dia tudo fora melhor

Irei eu um dia sentir falta de te esperar?

Por onde andei nos anos que perdi?

As palavras que disse eram as mesmas de outrora

Restou-me dormir o tempo todo, a vida toda

Até que o acordar também se parecesse sonho

Fui o personagem que escrevi,abandonei-me pela falta de carisma

O relógio da catedral me anuncia o fim da tarde

Lembro-me que em meu tempo

Acreditava que nunca partirias

O tempo era apenas uma ilusão

Mas ele levou-te diante de meus olhos

E se hoje o meu tempo parece eterno

O relógio não me anuncia apenas o fim da tarde

E sim a certeza da morte

Mas eu simplesmente não acredito

No jardim do outro lado da rua

Uma menininha de olhos negros brinca e sorri

Ela persegue uma libélula como se essa fosse todo o sentido da vida

Sem saber que nunca mais esse momento retornará em sua cabeça

E eu meu deus,por quanto tempo ainda manterei viva essa lembrança?