Ixtab

Eu nunca tive palavras pra preencher os espaços em branco

Fui completando aos poucos com o o resto do que não aconteceu

Compensei-me na falta pelos erros de português

Calei-me menos do que consenti embora não entendesse a sentença

E disso fiz-me de grande,tão grande quanto os sonhos de toda essa cidade

Fui grande,antes que pudesse abrir os olhos e transcrever as imagens no papel

Quisera eu ter saudade do passado,de meus tempos de criança e de inocência

Quisera ter nascido pura,e lamentar a quebra da pureza

mas fiz me mártir antes mesmo de nascer

ansiei a vida por toda a minha velhice

E hoje, contento-me nesse meio-termo

Bebendo o leite morno e escrevendo os mesmos sentimentos

De um espírito que poderia ter sido quente,mas não foi

me resta a caneta e alguns borrões

Não transformei minhas desventuras em versos

Deixei-as sumirem no esquecimento com minhas palavras surradas

Não sei sentir o que não sinto

E eu não sinto o que sei sentir

Escrevo versos pra fingir que caminho em alguma direção

Algo que não seja poeira

Deveria encerrar logo?deveria prosseguir?

Os amores que amei não me inspiraram o suficiente

As musas que desejei nunca nasceram

Os pedaços amáveis de mim não me correspondiam

Ou eu que não os correspondo?

Não me importa,encerrar a escrita como arte definitiva

Calar-me antes que a voz esteja fraca

Minha doce amiga,se fosse digna suicidar-me-ia

Antes de completar o poema

Valorizar a vida na morte

Morrer,enquanto há a ultima dose de orgulho

Mas eu não me escrevi da forma que te fiz

A glória decadente não me regeu em nascimento

Sou decadência daquilo que não teve por decair

Sou decadência por andar em linha reta

E utilizar apenas tons pasteis

Sou completamente vulgar

Minha amiga,segure minha mão

Se não escrever,não me restará nada para sentir

Não me restará nada a lembrar

Quero a magia de sua mão leve sobre a minha

Quero o peso de seus olhos negros sobreos meus

Eu ainda devo a tua vida,mas eu não posso rebaixar-te

Por favor ,não morra

Se eu não puder te escrever perderei todo o amor que tenho em mim

Já que que a realidade que bebo não me aquece

Já que os versos que escrevo farão qualquer coisa

Menos tornar-me poetisa

Mas eu continuo escrevendo