O SONHO

o sonho tal caixa d’água

não se sabe instrumento

simples: impossível de suplicar exigências

sonho: bicho quadrado aumentando

e derramando para preservar a forma

sonho de feixe ameaçando acordar

quando a carga dos olhos pesa

como uma mão que martela pregos

sem entender o significado da construção

quadros peças ângulos métricas

na sua estranha arte o sonho não arrebata nenhuma lei

as cores apenas desfilam sem merecer

os olhos pasmos do sonho

o sonho nada mais é que uma mão

que chora dói por uma luva

dentes pés e uma velha canção tocando

para o sonho a canção é desnecessária

bicho sem credo

com a cauda do medo

faz-se senhor de um espelho mutável

no sonho há sempre uma dimensão maior e superior

que se alimenta dos restos

para que o sonho fique enxuto tal caixa d’água vazia

- no sonho o instante é apenas a caixa d’água

a água é então um suspiro imaginário do sonho

Anderson Alcântara
Enviado por Anderson Alcântara em 06/08/2009
Reeditado em 20/08/2013
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