Minotauro ou Astérion
E era de tal feiúra
que só despertava paúra.
Preso nessa amargura,
rodava seu labirinto, sua clausura.
A cada ano, conta-nos Borges*,
recebia novos alforges.
Virgens de Atenas,
ou só virgens. Apenas.
E tanto ele as gostava,
com tal gozo as devorava
que presto a saciedade
lhe chegava.
Mas eis que certo dia,
viu-se num espelho que havia;
e tal foi seu horror,
e tanta foi sua dor,
pois viu como era burlesco e complexo
o seu triste reflexo.
E por ser filho do Rei, logo decretou:
que se findem as imagens.
Que saibam os Homens,
suas vindouras vantagens.
Foi então que o Homem nunca mais viu
o terror que sempre produziu.
Mas, como na lenda,
do tempo da grega calenda,
eis que chega algum Teseu
que de um só golpe
destrói a cria de Prometeu.
E agora, já nesse pós Mundo,
é dificil entender
qual o Minotauro,
qual o Centauro?
E qual, Homem, foi tua obra?
Esse tanto de miséria que se chora
e que se vê em qualquer hora,
ou outro fiel exercicio dos males de Pandora?
E o pior é que já não há mais cortina para fechar.
Essa grega tragédia veio para ficar.
Mesmo que outro grego a queira recontar.
* Jorge Luis Borges