Quando o outono se instala no tempo...
Os ossos sentem a umidade
quando o outono se instala no tempo.
A mudança na estação da vida
umedece os olhos e resseca o coração.
Trêmulo o corpo se abala
quando o outono se instala nas veias
e o sangue corre lento e tépido.
Nenhuma aurora terá mais
o brilho do cetim carmesim
e a zona do crespúsculo passa a ser dia.
Quando o outono se instala na vida
os olhos se perdem no horizonte.
Os ossos caminham sozinhos
sustentando um espectro.
O outono está a meio caminho
entre a luz e a escuridão.
E, enquanto a luz se distancia
mais se aprofunda a morte
como uma densa floresta.
Longe se vão as flores
e os frutos amadurecidos
despencam no chão.
As folhas ressecadas
ainda indecisas
acompanham o vento
ou
repousam entre seixos e galhos feridos
a espera do retorno.
Em vão.
Quando o outono se instala no tempo
nítidas são as certezas da vida,
mas da morte a visão
obscurece a esperança.
( do livro inédito de poemas: DO COMEÇO AO FIM ...)