CINZAS
Eu era apenas uma árvore frondosa
Que ofertava doces frutos aos famintos
Minhas sementes espalhadas nos recintos
Multiplicavam-se, em paz, silenciosas
Com a sutileza do perfume que há na rosa
Que traduzia um cenário de beleza
Fosse uma pétala aberta, indefesa
Inebriava o lugar com seu perfume
Subia o monte balançando ate o cume
Para prestar reverência à natureza
Ao pé do caule, onde a sombra fica presa
Para servir de abrigo aos viandantes
E de cenário ao romance dos amantes
Impregnados de amor, qual chama acesa
Do ar promíscuo extirpava as impurezas
Filtrando os males, vírus da atmosfera
Banhava em gotas de orvalho a flor que gera
Fruto e semente intumescidos no viço
Eternizando, dessa forma, o compromisso
De reflorir outra vez na primavera
Ó ser humano, que me agride como fera
Tombada ao solo, à mercê do seu assédio
Fui destruída para alimentar seu tédio
Perdi as flores do meu sonho de quimera
Banindo as cores que pintei na primavera
E expondo ao sol as sombras de sua infância
Matou os frutos que gerei em abundância
Pobre humano, vil refém da negligência
Ceifou-me a vida, pela sua incompetência
Tornou-me cinzas, pela sua ignorância