CINZAS

Eu era apenas uma árvore frondosa

Que ofertava doces frutos aos famintos

Minhas sementes espalhadas nos recintos

Multiplicavam-se, em paz, silenciosas

Com a sutileza do perfume que há na rosa

Que traduzia um cenário de beleza

Fosse uma pétala aberta, indefesa

Inebriava o lugar com seu perfume

Subia o monte balançando ate o cume

Para prestar reverência à natureza

Ao pé do caule, onde a sombra fica presa

Para servir de abrigo aos viandantes

E de cenário ao romance dos amantes

Impregnados de amor, qual chama acesa

Do ar promíscuo extirpava as impurezas

Filtrando os males, vírus da atmosfera

Banhava em gotas de orvalho a flor que gera

Fruto e semente intumescidos no viço

Eternizando, dessa forma, o compromisso

De reflorir outra vez na primavera

Ó ser humano, que me agride como fera

Tombada ao solo, à mercê do seu assédio

Fui destruída para alimentar seu tédio

Perdi as flores do meu sonho de quimera

Banindo as cores que pintei na primavera

E expondo ao sol as sombras de sua infância

Matou os frutos que gerei em abundância

Pobre humano, vil refém da negligência

Ceifou-me a vida, pela sua incompetência

Tornou-me cinzas, pela sua ignorância

Heliodoro Morais
Enviado por Heliodoro Morais em 14/07/2009
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