PALAVRA DESNUDA
Anna Paes
Desnuda a palavra,
Tira dela todas as vestes,
Não aceita nenhum outro signo da linguagem
Nos poemas de tua lavra,
A não ser ela: a palavra!
Despe-a de todo adereço
Até que apareça
Do coração a mensagem
Nua e crua em toda sua inteireza.
Tire da palavra toda cor
Para que ela surja sem pudor
De forma a expor os atos.
Mostra-me os fatos.
Não desnuda apenas as palavras
Despe também o coração
Não burila as tuas saudações
O que são as palavras sobre a inspiração?
Eu quero meu poema bem ornado,
Pois no palco da vida, nada é proibido
Expõe-se o que se quer
Amante, amigo, homem ou mulher.
Adereços, sons, imagens, enriquecem as cenas
Luzes no céu, estrelas caindo no papel,
Nada poupo hoje neste mister.
Das palavras, lanço mãos das estrelas mais belas.
Água, fogo, muralhas de rochedo
E que não faltem pássaros, borboletas e flores.
Faço assim desfilar no palco do eterno
O produto de minha criação
O resultado último de minha intuição.
O rasgar de minha alma,
O expandir das minhas emoções.
Amores são sentires que não tem destino
É o ferver do sangue, é puro desatino.
Dos meus poemas só quero tirar a máscara
Da hipocrisia,
Do pensar sem sentir, esta heresia.
Do sentir sem mentir.
Quero meu poema parecido comigo,
Transparente, muito descente e nobre.
Com braços abertos feito noturno abrigo;
Com os atavios que enfeitam o rosto,
o colo, o corpo de uma mulher.
Tudo na medida certa, que nada sobre.
Com as melodias de cantos celestiais
Que nos transportam às orbes do céu.