Diante da Sombra
Sim, me diz
Ah, diz-me!
Que tu fazes quando
Tudo está tão escuro?
Quando a luz apaga
Quando a sombra é maior
Que o contorno de todos?
Sim, me fala
Isso, fala-me!
Pra onde andas quando
A luz está a metros poucos
Da fonte incandescente de negro?
Quando a vela só faz mais
Sombra que jaz, e as coisas aumenta?
Sim, me conta
Ah sim, conta-me
Que acontece à noite tão
Sem fim à noite preta?
Quando a lanterna só contorna
Os corpos dos “amigos” sós
Contigo em penumbra e pó?
Sim, me dá
Ah sim, dá-me
Toda a cara do lar que
Torna tudo em esboço torto?
Quase alemão em anos 20
Quase americano em noires
Mas anoitado que a ressaca-mor?
Pra onde vais?
Onde estás?
Como ficas?
Que te restas?
O que fazes?
O que procuras?
Desta dura fita
Que te estica
Ao limite, te dedicas
A achar a luz, menina,
Que, homem, tu mesmo afias
A mole garra que a esfria
De tua pele tira, macia,
Da qual nada resta, fatia
Qual pão dormido, ansias
Sair da tumba, mas a pedra é fria;
Rocha tua, por ti comprada, filha
Quase, de tão dura, amarg’amiga