A brancura que ficou em logo ali
(Escrito no carro, de Campo Grande a Lapa, passando por Ipanema)
Todo o dia é a mesma cantilena
Um despertar confuso
Silêncio
A avenida vazia da minha vida
O castelo vigiado e fedento
A refinaria da minha favela
Onde estará ela?
Sinto o sentido da direção
O sol cega e aquece
A cidade é o piso e a paisagem
O pensamento vaga a procura da brancura
Ao lado do amigo de Campo
Onde estará seu pranto?
Um Cristo cabisbaixo me observa
Os irmãos túneis das Laranjeiras
Tudo é lembrança na passagem
A corrida dos carros potentes
Os porcos a lagoar com Freitas
Até as torres no cume
Tudo é nada
O corte profundo de Copa
Ipanema das lembranças
Por onde anda sua elegância?
Aquela panificadora continua lá a nos esperar
Não há lá lá
Lembrei-me da cabeça no poste
Da sua grande gargalhada
Felicidade passada, perdida
O caminho da Lapa
O relógio marca cedo demais
O amarelo dos táxis
O azul branco da manhã
A cidade desnudada e bela
Copabana se apresenta
A moldura do túnel sul do Rio Sul
De cabo a rabo
Eu pensando nela
A estrela solitária e louca
Na marina tudo é lembrança
A Urca foi nosso berço
Na Farani lembrei da Facha
Isso tem cura
Enquanto isso penso na brancura
Que ficou em logo ali
Depois da serra
Longe do mar
Onde será que ela está?