O Mendigo
Sentou-se o mendigo,
na minha calçada,
Alojou-se,
Cercado por um silêncio,
Por uma dor sussurrante
A tocar-me o coração.
Sentou-se silencioso
E alojou-se.
Havia nos seus olhos
Um mundo inteiro perdido
E um vazio imenso ascendendo,
Revelando desesperança e solidão.
Abandonado pela vida
O mendigo.
Sustentado apenas pela sua dor,
Cercado de desamor...
Ingratidão.
Ao aproximar-me e falar-lhe,
A sua voz era uma sílaba só:
Dor.
Entrecortada por submissa humilhação.
E o meu coração uma chaga,
Mistura de revolta,
Compaixão.
Desejo imenso de ser
Solução.
Não fui.
Apenas alimentei
E agasalhei o seu corpo.
Porém, vazia e fria, ainda, a sua alma estava.
Retornei.
Não mais o encontrei.
Foi-se, com a sua dor.
Fiquei, com a minha inoperância.