O Mendigo

Sentou-se o mendigo,

na minha calçada,

Alojou-se,

Cercado por um silêncio,

Por uma dor sussurrante

A tocar-me o coração.

Sentou-se silencioso

E alojou-se.

Havia nos seus olhos

Um mundo inteiro perdido

E um vazio imenso ascendendo,

Revelando desesperança e solidão.

Abandonado pela vida

O mendigo.

Sustentado apenas pela sua dor,

Cercado de desamor...

Ingratidão.

Ao aproximar-me e falar-lhe,

A sua voz era uma sílaba só:

Dor.

Entrecortada por submissa humilhação.

E o meu coração uma chaga,

Mistura de revolta,

Compaixão.

Desejo imenso de ser

Solução.

Não fui.

Apenas alimentei

E agasalhei o seu corpo.

Porém, vazia e fria, ainda, a sua alma estava.

Retornei.

Não mais o encontrei.

Foi-se, com a sua dor.

Fiquei, com a minha inoperância.

Otelice Soares
Enviado por Otelice Soares em 30/05/2009
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