Entre las margaritas
Primeiro,
despirei o espesso manto
que me oculta a alma;
desnuda,
vou mostrá-la a ti,
para teu espanto
diante destes tantos cortes
tão profundos e vivos,
que ainda sangram
pelo que então vivi.
Depois,
determinada e forte,
lavarei meus cortes
com vinagre e sal
(mágica poção que provoca
intensa dor medicinal )
para expurgar meus males
que me disputam
e me repartem entre si;
para exorcizar de mim
anjos e demônios,
o santo e o profano,
fantasmas e querubins,
em forma de pensamentos,
lembranças de maus momentos
que, com insaciável fome,
roem-me inteira por dentro,
como fazem à madeira os cupins...
Bendita assepsia!
Estarei livre, afinal!
Me soltarei das amarras
que ainda me prendem a ti,
embora de ti não me afaste,
pois tudo o que vivo é por ti!
Criarei asas de borboleta,
ou quem sabe, de colibri,
para voar entre as flores sagradas
que sonhei e nunca colhi!
Absorverei os perfumes
de orquídeas, jasmins e rosas.
Já não terei queixumes, pranto,
nem lembranças dolorosas.
Terei o rosto sorridente
e as faces bem coradas;
a alma leve, confiante,
volitante por novos rumos,
guiando-te por novas estradas,
pois se não estivermos juntos,
o todo e o tudo serão nada!
Guardarei para ti,
em cada abraço ,o universo,
mudarei o tom dos meus versos,
afinados de dó a si...
Enfeitarei meus cabelos
com o brilho de mil estrelas
e laços de coloridas fitas.
Por fim,
com a alegria emprestada
desse fantástico jardim,
" yo moriré a reírme,
entre las margaritas."