RÉQUIEM PARA PACIÊNCIA
A paciência é uma tortura chinesa sem fim,
parece que o tempo decide parar na nossa frente e fica nos encarando sem piscar o olho,
parece um chocalho balançando num vento que nunca desiste da sua agreste missão,
parece uma britadeira tentando furar a nossa face e acaba conseguindo isso a toda hora.
A paciência é para quem não precisa dormir, nem respirar, nem sonhar,
é uma luva sob medida para deixar o coração empaturrado de um vazio imenso,
é uma saga circense que nunca chega ao fim, nem ao seu começo.
Muitas vezes ficamos desarmados diante dela, parecemos imberbes querendo espiar a moça pelo vão da janela,
outras vezes nos revelamos plenamente escancarados, como cálices encardidos que, mesmo assim, enchemos de vinho e nos fartamos até morrer, numa alforria desembestada e ruminada,
como um gibi onde o herói não aparece nunca.
A paciência é uma moça debruçada na janela deixando escorrer seus seios na parede,
é uma faca que corta nossa pele em filetes tão pequenos que não sentimos,
uma melodia aguda e estridente que há muito tempo deixou de sorrir,
é um bicho arredio e irritante que vai nos levar ao fosso das almas num segundo qualquer.