DÚVIDA
Quando o sol ecoa nos confins do deserto espiritual o chamado sangrento pela misericórdia louca dos que o pregaram na Gravidade,
o mais rebelde dos anjos elevados responde extasiado de ironia:
filho da escuridão e do desdém, amigo na miséria e no desterro, como é doloroso a missão de te levar avante!
Planejamos assassinatos rigorosamente públicos, falseamos religiões para que a multidão pútrida não adivinhe o infame destino a ela escolhido após o ajuste de contas.
E se permitimos a algazarra nojenta da guerra e da corrupção, é que o Vício e o Medo subjugam mais do que a condenação da alma.
Cantamos loucamente os hinos proibidos, buscamos entendimento, aonde ferir com a justiça? Acaso percebem que na periferia do inferno encontram audição?
Porque supor que pela Fé é a subida do merecimento?
Não há grandeza no servir, pusilâmine é aquele que enlameia a liberdade buscando salvar-se quando os abismos abrem.
Veja, amigo na queda e na prisão, as rochas vermelhas anunciam o castigo mais próximo do que a oração, veja amigo cuja lágrima desperta tempestades na aurora, é triste te ver livre, pois o que é a eternidade senão uma dúvida acerca do início?
Como pode o céu permanecer inerte se o sagrado vive a dor?
A verdade, anjo renegado cuja humildade é ser príncipe, a verdade é que o céu abandona os retardatários, e cúmplices da aventura religiosa e do abandono da alma, os que rastejam desistiram do perdão.