Infectada
Célula mãe
Única no universo
Pobre destino terá,
Um vírus mortal
Acaba de se desenvolver.
Vírus racional,
Mas antes não fosse!
Vírus mortal,
Porque morre
E possui consciência disso.
Vírus mortal, porque mata
E também sabe disso.
Vírus destrutivo,
Porque destrói e se destrói,
Somente por um conforto banal.
Vírus vingativo,
Que planeja a morte
De outros vírus seus.
Vírus político,
Se organiza em sociedades
Com um líder, também vírus.
Alienado é esse vírus,
Porque reclama do líder
Que o próprio vírus elegeu.
Sentimental e burro,
Porque destrói
E depois se arrepende
Mas continua a destruir.
Vírus arrependido,
Que tenta concertar os erros
Que seus pais vírus cometeram
E que os próximos vírus
Ainda cometerão.
Acomodado é,
Pois o vírus não se importa
Com o amanhã da célula
Muito menos com o seu.
Vírus que tem fé,
Pois esse vírus
Pede ao desconhecido
Que os livre do mal
Mesmo que o maior seja ele.
Chega a ser irônico! Vírus hipócrita,
Que depois de tudo isso
Reclama de outros vírus
Que só fazem mal a ele.
Reclama que a célula
Já estava danificada
Quando ele chegou nela,
E por isso continua
A fazer o seu trabalho de vírus.
Iludido ele é,
Porque consegue ser feliz.
Frio vírus,
Porque se alimenta
E com voracidade
Sabendo que outros vírus
Morrem de fome.
Colossal é esse vírus,
Conseguiu fazer em pouco tempo
O que outros não fizeram.
Antes não tivessem feito!
Porque de nada adiantou.
Frágil, apesar de tão destrutivo.
As vezes comotivo,
Apesar de tão frio.
Esperançoso,
Apesar de tão previsível.
Patético,
Apesar de tão racional.
Monótono, embora tão ativo.
Pensativo, só não é crítico.
E quando crítico, não é ativo
E passa a ser deseperançoso,
Por ser patético
É quando se comove,
Por ser frágil.
Inútil em sua crise existencial!
A morte do vírus
É inevitável,
Pena depender
Da morte da célula mãe
Única no universo
Que por humanos
Foi infectada.