MULHER

Fui buscar você onde nem queria,

nem sabia, nem devia, nem seguia,

nas frestas, nas festas, nas testas de alguém.

Nos soluços, nos engasgos, nos rasgos dos céus.

Cada vez que chegava perto, mas longe te sentia,

Gritava, abria meu peito, explodia meus gritos,

mulher.

Fui buscar você onde não podia, onde nem me via,

nas gargantas secas de todo o dia,

nas bocas tantas que nunca beijei, que sempre beijei,

nas fronhas mais encardidas e imaculadas da minha alma,

mulher.

Fui de porto em porto, de mão em mão,

fui buscar o seu rastro nas migalhas de tudo o que é vida,

fui catar você onde pudesse enfiar um pedacinho de luz.

E você passava por mim feito zumbi, feito zumbi,

você passava por mim feito furacão no seu dia de mais pressa,

você passava por mim feito fruta já madura, caindo do pé,

você passava por mim feito mofo que nem o tempo quer,

nem o tempo quer,

mulher.

De tanto buscar você acabei me perdendo de mim,

de tanto buscar você acabei me soltando de mim,

de tanto buscar você acabei me nascendo de mim.

E assim,

e só assim,

me encontrei enfim.

Mulher.