Bailando
 
 
Esta vida é uma orquestra sem pautas
embalando em ardis musicais
– percussão entre cordas, metais –
semitons e mais tons entre pausas.
 
Vai regendo esta orquestra perversa
um maestro chamado destino,
que tolera a qualquer desafino,
que não vê quando alguém atravessa.
 
Convidados no baile insensato
somos nós a vagar no salão,
indo e vindo a puxar pelas mãos,
sem juízo a pisar nos sapatos.
 
Eu entrei nessa dança, inocente,
vasculhando a procura de um par,
procurando dançar e dançar,
ensaiando um bailar diferente.
 
Mas não basta ser bom bailarino.
No salão eu fui posto de lado
porque o passo infeliz do bailado
não seguiu o toar do destino.
 
Fui pr’um canto com pés doloridos
e afrouxei cada nó dos cadarços.
Lá chorando deixei pés descalços.
Desisti de dançar, combalido.