# Porão #

Finjo a disposição de estar

frente a frente comigo mesma

planejo o diálogo, sustentado

em retóricas e palavras escolhidas

sei bem o que quero dizer a mim

sei ainda, onde quero chegar

o que quero tirar de cada esconderijo

trago as chaves para abrir as trancas

a candeia pra percorrer escuros corredores

a máscara da coragem, como armadura

o compasso ereto e decidido na descida

sei bem da umidade e sujeira acumuladas

de quanto me assusta esse porão

quão horrível pode ser o que verei de mim

há só um véu a se levantar..parece tão fácil

assim sigo, descendo e descendo , tremula

já gemidos pode-se ouvir, doídos, roucos

tanto lamento e tanto abandono posso sentir

em cada som desse choro, choro de séculos

sei bem que não posso me apiedar, antes

a toga da justiça e da razão, hei de manter

sei bem da capacidade que tenho de me corromper

com prantos ensaiados e manipuladores

dos que compram a compaixão, a relevância

e de como foi difícil, novamente, decidir

essa necessária descida, esse confronto

não posso desta vez voltar vencida

no papel de senhora da “casa”, sabendo

que mesmo que trancada no porão,

sou, ainda ela; a que, ainda, me domina...

m.raposo*

UmaMonalisa
Enviado por UmaMonalisa em 16/04/2009
Código do texto: T1542534
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