NUNCA MAIS
Sabe, não faço mais fé nas tuas fronhas,
nem consigo mais respirar só atracando na tua boca,
nem tenho mais fôlego pra encher de retalhos o seu festim.
Quanto mais quero ver você, mas nada você fica.
Um dia pensei em fazer de você o meu arado, o meu punhal certeiro.
Um dia pensei em trazer você para dentro de mim, como um feto bizarro que voltou para seu ninho já graúdo, já alvorecido.
Um dia pensei em fazer de você as vírgulas dos meus versos,
os calos dos meus gritos de menino que já se foi.
Mas você teimava em correr para outros risos, para outros sopros, para outros sei-lá-o-que.
Estamos deixando de caminhar sem pisar nesse chão, estamos nos privando de fazer do sono um barco que corre da deriva.
Sabe, não faço mais fé nas tuas curvas, não vou mais untar meu pão nessa tua lagoa fria, nessa tua sela que se despencou de mim, nessa tua voz rouca que pouco diz, pouco me quis.
O adeus é a única face da vida que ainda consigo tocar, e que ainda teimo em carregar pela mão.
E que ainda será capaz de levar para dormir os meus versos mancos, tontos, convulsionados, apodrecidos.
Os mesmos sonhos que você, certo dia, fingiu laçá-los para dentro de você, e nos quais confiei todos os dedos das minhas mãos.
E que você, sem pedir licença e nem pedir benção para minha crença, transformou em nunca mais.
Transformou em nunca mais.