ANCAS DE MENINA
Lembro quando te vi de primeira,
soleira de olho,meio menina, toda mulher.
Sua foto dizia tudo o que queria ver,
seu cheiro, em que ainda não aportei, colou em mim.
Jeito de polyana, como nunca untei antes,
nunca untei antes...
Corpo de cobra, gostosura de sobra,
sorriso de "vem pra mim", boca de te quero mais,
o resto não pude ver, pena,
fechei os olhos e você veio inteira,
faceira toda pra mim.
Queria te deitar, tal escrava caindo pelas tabelas,
queria te fecundar, além do ventre, bem mais,
queria te destilar poro a poro, poro a poro,
como se amanhã não a tivesse mais,
não a tivesse mais.
Vontade de revirar tuas peles, tuas ancas de menina,
vontade jogar você pra dentro de mim sem pena, nem pressa,
vontade de beber entre tuas pernas até me desmanchar em restos de mim, em restos de mim.
Mas você não estava aqui,
suas gostosuras não eram para o meu fardo,
nem, tampouco, para o meu pasto,
que agora estava seco, raso, desacordado pra vida.
Desacordado pra vida.
Vem, volta pra mim, volta pro prato de onde você veio,
volta pro porto de onde fugiu sem pedir fiança,
volta pro sangue que você transformou em nada,
volta pro sangue que você transformou em nada.
Vamos, menina, vamos fraldar juntos nessa cavalgada até nunca mais,
a mesma gargalhada que fez tudo tremer ao seu pé.
E assim, nessa pálida madrugada de um sonho qualquer,
iremos desembocar juntos numa catapora louca,
e, assim, iremos descobrir, finalmente,
em que desejo iremos desnudar os nossos dias,
todos os nossos dias.