Solidão, tristeza e música alta
Inês Martins
Quando está só você pode ouvir música alta...
Mas a casa parece um amontoado de móveis sem luz
E a televisão apenas pisca.
Uma pitada de romance...
Pipoca, aventura e um pedaço de vazio dentro.
Quando está só você pode andar sempre nua...
Pra quem nunca há de ver um pedaço da nudez exibida.
E o silêncio é tão enorme,
Que se ouve o coração batendo
Lento, depois rápido e dolorido.
A casa, um emaranhado de moveis sem luz.
Os pensamentos levitam, transitam, brigam, castigam.
Emaranhado de lembrança em sépia.
Emaranhado de incertezas do que não se quer ver com precisão.
O quarto... Seu cheiro ocre por toda parte.
O mundo, sua cor indecisa e incidente...
Reluzente, resolução inatingível.
Quando se está só... É como se um vazio se expandisse
E por si, mostrasse que tudo não passou de uma noite
Um abraço, com um pedaço de você, ali
Apenas uma lembrança de um corpo pesando, na minha conjectura.
Ouvindo música alta,
Nua,
Despida de qualquer julgamento,
Apenas tristeza.
De um dia que nem chegou a ser verdade.